Investigação Aplicada sobre o Desenho (Design-Based Research)

No Tema 4, foi proposto a realização de uma pesquisa sobre o método Investigação Aplicada sobre o Desenho (Design-Based Research).

Com base nas fontes abaixo identificadas foi realizado o trabalho aqui publicado: Investigação Aplicada sobre o Desenho|Design-Based Research.

Fontes: 

Barab, Sasha & Squire, Kurt. (2004). Design-Based Research: Putting a Stake in the Ground.THE JOURNAL OF THE LEARNING SCIENCES, 13(1), 1–14.  Consultado a 14 de julho de 2013. Disponível em http://website.education.wisc.edu/~kdsquire/tenure-files/29-jls-barab-squire-design.pdf

Clara Pereira MIE MCEM 2010. (2011). Investigação Aplicada Sobre o Desenho. Consultado em 14 de julho de 2013. Disponível em http://clarapereira-miemcem.blogspot.pt/2011/02/investigacao-aplicada-sobre-o-desenho.html

Edutechwiki. (2013).Design-based research. Consultado a 14 de julho de 2013. Disponível em http://edutechwiki.unige.ch/en/Design-based_research

Peer Group. (2006). What is Design-based Research?. Consultado a 14 de julho de 2013. Disponível em http://dbr.coe.uga.edu/explain01.htm#references

The Design-Based Research Collective. (s/d). Design-Based Research: An Emerging Paradigm for Educational Inquiry. Educational Researcher, Vol. 32, No. 1, pp. 5–8. Consultado a 14 de julho de 2013. Disponível em http://www.designbasedresearch.org/reppubs/DBRC2003.pdf

Aplicação, análise e interpretação da entrevista

Após a aplicação da entrevista, a mesma foi transcrita e depois submetida a análise e interpretação. Nos documentos abaixo pode consultar estas três etapas do grupo Smashing Pumpkins.

transcrição_entrevista_grupo smashing pumpkins

Analise_de_conteudo_smashing_pumpkins

Analise_e_Interpretacao_de_Entrevista_Grupo_Smashing Pumpkins

Após a aplicação, transcrição e análise e interpretação da entrevista realizada, o professor José Moreira lançou algumas questões relativamente a esta fase do processo de investigação:

Que cuidados ter durante a realização da entrevista?

Morgado refere algumas sugestões e diretrizes a ter em conta durante as entrevistas (2012, p.75):

– nunca falar mais do que o entrevistado,

– demonstrar interesse pelas afirmações e pontos de vista do entrevistado,

– solicitar esclarecimentos suplementares sempre que for necessário,

– não emitir juízos de valor acerca das declarações ou posições assumidas pelo entrevistado.

De seguida, irei elencar algumas das orientações prestadas pelos colegas na sala de aula virtual:

– o planeamento prévio do tempo, do espaço e dos equipamentos a serem usados para a entrevista, pode prevenir a ocorrência de constrangimentos, como distrações ou ruído, e garantir a privacidade (José Fialho, Fábia Moreira, Cátia Carminé),

– antes de dar início à entrevista, o entrevistador deve apresentar-se e informar o entrevistado dos objetivos gerais da mesma, de forma a se sentir devidamente enquadrado (José Fialho, Cátia Carminé),

– o entrevistado também deve ser informado sobre a confidencialidade da entrevista, deixando-o seguro e confiante e a sua autorização deve ser solicitada sempre que a entrevista for gravada  (José Fialho, Cátia Carminé),

– não tentar induzir o entrevistado com manifestações verbais ou gestuais de concordância ou discordância das posições assumidas pelo entrevistado (José Fialho),

– manter o controlo da entrevista, fazendo intervenções no sentido de evitar divagações do entrevistado, as quais possam fugir do contexto e dos objetivos previstos, tendo sempre em atenção a linguagem utilizada (Fábia Moreira, Cátia Carminé),

Pouco mais tenho a acrescentar aos contributos dos meus colegas, mas apenas reforçar que um profundo conhecimento dos objetivos da entrevista e da investigação, do guião da entrevista e da sua organização, a par com a colocação das questões de forma clara e simples, são muito importantes para o sucesso da entrevista.

Como ultrapassar entrevistados pouco cooperantes ou muito divergentes?

Na posse das seguintes características – objetividade, gentileza, sensibilidade, empatia, flexibilidade, imparcialidade, capacidade crítica e interpretativa – o entrevistador terá condições para ultrapassar as dificuldades que lhe possam surgir durante a realização da entrevista, como é o caso de se deparar com entrevistados pouco cooperantes ou muito divergentes.

Quais as dificuldades sentidas em estabelecer/rever as categorias de análise?

Bardin (1995) citado por Morgado (2012, p.107) refere que “a técnica de análise de conteúdo adequada ao domínio e ao objetivo pretendidos, tem de ser reinventada a cada momento.” Assim, Vala (1999), igualmente citado por Morgado (2012, p.108), refere que independentemente da direção que cada investigador seguir deve ter em linha de conta um conjunto de operações mínimas:

– definição dos objetivos e do quadro teórico de referência

– contribuição de um corpus documental

– definição das categorias

– definição das unidades de análise (unidades de registo e de contexto)

– finalidade e validade

– quantificação

Tal como o professor José Moreira recomendou também Esteves, citado por Morgado (2012, p.110), sugere que “antes de se proceder à definição das categorias (…) se deve fazer uma leitura flutuante do material, ou de grande parte dele, de modo a que o investigador se aproprie da natureza dos discursos recolhidos e dos sentidos gerais neles contidos a fim de começar a idealizar o sistema de categorias que vai usar no tratamento.” Por isso, Morgado (2012, p.110) refere que para categorizar, primeiro temos que analisar a pertinência dos elementos para que sejam isolados e devidamente classificados e reduzidos. Posteriormente, os dados serão reagrupados por analogias a fim de servirem os interesses da investigação.

Segundo Morgado (2012, p.111), o objetivo de criar categorias,  é transformar o texto em unidades de significação, organizando os dados de forma lógica e resumida. Bardin (1995) citado por Morgado (2012, p.111) define categorização como “operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos.”

A categorização pretende alcançar o núcleo central do texto da respetiva entrevista, envolvendo vários procedimentos que se baseiam em regras definidas. No sistema de categorização a identificação de subcategorias são conceitos que se apresentam numa ordem hierárquica inferior aos das categorias, ou seja as subcategorias são unidades mais específicas que por sua vez se apoiam nas unidades de registo, que segundo Carmo e Ferreira (1998) “o segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário para poder proceder à análise, colocando-o numa dada categoria.”

São frases, expressões, palavras que servem para fazer a inferência do atributo a que essa unidade de registo se encontra relacionada. As unidades de registo são o mínimo conteúdo numa categorização, por sua vez as unidades de contexto constituem “o segmento mais longo de conteúdo que o investigador considera quando caracteriza uma unidade de registo, sendo a unidade de registo o mais curto.” (Carmo & Ferreira, 1998).

Segundo Esteves (2006), referido por Morgado (2012, p.112), pode-se proceder de duas formas distintas ao processo de categorização usando:

Procedimentos fechados (pré-categorização) – onde o investigador já tem categorias definidas previamente.

Procedimentos abertos (categorização emergente) – onde as categorias surgem do próprio material.

No caso do grupo Smashing Pumpkins, as categorias foram criadas a partir de procedimentos abertos, pois surgiram do material da própria entrevista. A maior parte das categorias surgiram dos objetivos delineados com o guião da entrevista, no entanto, após surgirem novas questões no decorrer da entrevista foram necessárias definir outras categorias. Contudo, este percurso não foi fácil, pois as dúvidas foram muitas e depois da categorização feita e entregue, teríamos feito alterações.

Como garantir que não estamos a sobrepor a nossa “voz” à dos entrevistados quando fazemos a análise?

Como refere Morgado (2012, p.113), “a relevância de qualquer investigação depende, essencialmente, da forma como o investigador analisa e interpreta os dados que recolheu”, os quais darão lugar às conclusões do estudo.

Respondendo à questão colocada, reconheço que ao lidar com dados qualitativos facilmente se pode cair na subjetividade, por isso, o investigador deve munir-se de instrumentos que lhe permitam fazer a análise e a interpretação dos dados da forma mais rigorosa possível. Nesta ordem de ideias, Morgado (2012, p. 114) refere que de forma a ultrapassar esta questão o investigador deve partilhar os dados com o participante, a fim de perceber a adequação e aferir a relevância, para que se compreenda que dados privilegiar ou eliminar.

Ainda o mesmo autor, alerta para “a necessidade de compreender os significados dos fenómenos em estudo na sua globalidade” (2012, p. 114), atendendo ao contexto em que ocorrem. Refere também que dominar os recursos e técnicas de análise e ter “estratégia analítica geral” ajuda a ultrapassar as dificuldades da análise.

Relativamente às estratégias de análise, de forma a combater a subjetividade que o investigador possa imprimir nos dados recolhidos, Yin (2005) referido por Morgado (2012, p. 115-116) refere três:

Fundamentar a análise dos dados em proposições teóricas (seguindo os pressupostos teóricos que originaram o estudo, ajudando na definição de prioridades);

Produzir explanações concorrentes (delinear e testar explicações concorrentes na análise dos dados)

Desenvolver uma descrição do caso (abordagem analítica baseada na descrição baseada na elaboração de uma estrutura descritiva com o intuito de organizar o estudo).

Fontes:

Carmo, H.; Ferreira, M.M. (1998). Metodologia da Investigação. Guia para auto-aprendizagem. Lisboa, Portugal: Universidade Aberta.

Coutinho, Clara. (s/d). O que é Análise de Conteúdo?. Consultado em 3 de junho de 2013. Disponível em http://claracoutinho.wikispaces.com/O+que+%C3%A9+An%C3%A1lise+de+Conte%C3%BAdo%3F

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: Defacto.

Kvale, Steinar. (1996). InterViews: An Introduction to Qualitative Research Interviewing. Consultado a 14 de julho de 2013. Disponível em http://books.google.pt/books?id=lU_QRm-OEDIC&pg=PR13&lpg=PR13&dq=interviews+an+introduction+to+qualitative+research+interviewing+kvale&source=bl&ots=40fygCCmDm&sig=4kDWBAoZpSn-5wv5_BKypebSivw&hl=pt-PT&sa=X&ei=tQemUcbHFKjB7AaFroHwBw&ved=0CFsQ6AEwBA

Guião de Entrevista

Ainda no âmbito do Tema 2, foi proposto a construção, em grupo,  de um guião de entrevista do tipo semiestruturada a ser aplicado num estudo de caso sobre as representações dos professores do ensino básico/secundário, tendo por base as seguintes de investigação: O que pensam esses professores sobre as redes sociais, como por exemplo o Facebook, Myspace, Hi5, Twitter, etc? Como é que vêm a sua (hipotética/real) participação numa rede social? Que expetativas têm sobre o seu uso no ensino?

O grupo Smashing Pumpkins apresentou o seguinte guião de entrevista:

Guiao_de_entrevista_Smashing Pumpkins

Depois da análise aos outros dois guiões disponibilizados neste Tema 2, de facto, o guião de entrevista apresentado pelo grupo Pixies é o mais completo, pois dos objetivos gerais, os quais converteram em blocos temáticos, apresentou os objetivos específicos, dos quais resultaram as questões para o guião.

As orientações dadas para a realização da entrevista também foram fundamentais. Realço as seguintes: apresentação dos objetivos gerais e específicos, solicitação de consentimento ao entrevistado para gravação da entrevista, assegurar a confidencialidade da mesma, condução da entrevista de forma semirigida, cumprimento do tempo estipulado para a realização da entrevista, realizar apontamentos pertinentes que permitam clarificar alguma dúvida que possa surgir após o término da entrevista.

Criticamente, considero que o guião de entrevista construído pelo grupo Smashing Pumpkins apresenta algumas falhas, nomeadamente a não explicitação e não articulação das questões com os respetivos objetivos e temáticas. Mas por outro lado, considero que elaborou questões muito pertinentes, tendo-as dividido em grupos de temáticas, uma organização útil na aplicação e na análise das informações obtidas na aplicação da entrevista.

A entrevista

A escolha das técnicas e instrumentos de recolha de dados é crucial para a qualidade e o êxito da investigação, por um lado. O investigador é o outro elemento chave na investigação, segundo Erickson (2012, p.71), nomeadamente o seu conhecimento, a sua capacidade e a sua experiência no processo de recolha de dados.

Neste post, irei debruçar-me sobre a entrevista que Bisquerra (2012, p.72) define como sendo “uma conversação entre duas pessoas, iniciada pelo entrevistador, com o propósito específico de obter informação relevante para uma investigação.”

Segundo Bogdan & Biklen (2012, p.73), as entrevistas diferenciam-se de acordo com o seu grau de estruturação:

Entrevistas estruturadas

– seguem integralmente um roteiro estabelecido,

– o investigador é um mero compilador de dados,

– o investigador tem a responsabilidade de criar um ambiente que promova as respostas do entrevistado.

Entrevistas não estruturadas

– o processo de recolha é muito mais dinâmico, flexível e aberto, não estandardizado,

– o investigador leva o entrevistado a falar sobre uma área de interesse e, ao longo da conversação, vai explorando com mais profundidade e, sempre que necessário, norteia o entrevistado para a temática em discussão.

Entrevistas semiestruturadas

– a existência de um documento de “perguntas-guia”, carateriza este tipo de entrevista que se situa entre as entrevistas estruturas e as entrevistas não estruturadas,

– o investigador cria condições para que o entrevistado fale abertamente, contudo sempre que este se desvia da temática a ser abordada, o investigador redireciona, de forma natural, a entrevista para que os seus objetivos sejam alcançados.

As entrevistas também podem variar, segundo o número de sujeitos entrevistados, nomeadamente se a entrevista ocorre individualmente ou em grupo, sendo que nesta última, o objetivo é a discussão de uma temática/problemática por um grupo de pessoas em simultâneo.

Relativamente aos temas em análise, identificam-se  os seguintes tipos de entrevistas:
– Entrevista de Controlo (por exemplo, entrevistas pós-experimentais que verificam a verossimilhança da situação experimental; apesar da entrevista aplicada ser do tipo estruturada, não é o instrumento de recolha de dados principal),
– Entrevista de Verificação (da evolução de um determinado domínio da investigação, podendo ser realizadas entrevistas do tipo estruturadas ou semiestruturadas),
– Entrevista de Aprofundamento (de temas que não considerados suficientemente explicados/explorados, através das entrevistas semiestruturadas ou não estruturadas),
– Entrevista de Exploração (de um domínio que o investigador não conhece/domina; aplicação na entrevista não estruturada).

O guião numa entrevista apresenta-se como o fio condutor da mesma, por isso, deve-se ter em consideração alguns pontos fundamentais na sua elaboração:

– elaborar perguntas de acordo com os objetivos da investigação, a amostra e o perfil do entrevistado, e o meio de comunicação utilizado na realização da entrevista,

– considerar as expectativas do entrevistador,

– evitar influenciar as respostas,

– apontar alternativas para eventuais fugas à(s) pergunta(s),

– estabelecer o número de perguntas e proceder  à sua ordenação, dentro de cada dimensão,

– utilizar um vocabulário claro, acessível e rigoroso.

Na construção das questões, deve-se ter em consideração os seguintes pontos:

– adequação aos objetivos da investigação,

– adequação das perguntas aos entrevistados (claras, acessíveis, rigorosas),

– recurso a questões abertas e fechadas,

– adequação do número total de questões,

– adaptação da sequência das perguntas,

– se adequado, anotação de palavras-chave para as respostas

O guião de entrevista deve apresentar uma boa apresentação gráfica, nomeadamente:

– redação do cabeçalho com identificação,

– incluir uma apresentação sucinta da entrevista, incluindo os objetivos,

– formatação cuidada do documento.

O espaço físico e o espaço temporal também são pontos a ter em conta na elaboração do guião da entrevista.

Depois de elaborado, o guião de entrevista deve ser analisado e criticado por especialistas e/ou entrevistados-teste, de forma a, posteriormente, se proceder à validação do respetivo guião.

Fontes:

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: Defacto.

Quivy, R. e Campenhoudt L. (1992). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.

Métodos quantitativos de recolha de dados – Parte II

Tendo por base a dissertação de Mestrado de Cidália Neto (2006) intitulada O papel da Internet no processo de construção de conhecimento, foram elencadas as seguintes questões:

São apresentados claramente os objetivos de investigação que presidiram à elaboração do questionário?

No geral, a autora Cidália Neto apresenta de forma clara os objetivos da sua investigação: primeiramente apresenta os objetivos gerais e, posteriormente, os objetivos específicos.

Objetivos gerais do estudo:

Verificar as condições de acesso à Internet (professores e alunos)

• Caracterizar a relação de professores e alunos com a Internet, numa perspetiva comparativa.

• Analisar as representações dos dois grupos, no que respeita à Internet e ao seu papel na sociedade, em geral, e na educação formal, em particular.

• Averiguar a forma como os alunos realizam uma pesquisa na Internet

Objetivos específicos do estudo:

Verificar a facilidade de acesso (ou não) à Internet.

• Verificar a frequência de acesso à rede.

• Apurar as razões de uma fraca navegação na Internet (se for o caso).

• Identificar os interesses que motivam o acesso à rede.

• Caracterizar a relação dos dois grupos com a Internet, em termos técnicos.

• Identificar as representações que os atores educativos têm acerca dos conteúdos presentes na Rede e sua organização.

• Verificar o grau de importância atribuída à Internet.

• Aquilatar o grau de confiança relativamente aos conteúdos que circulam na Internet.

Comparar as perspetivas e práticas dos dois grupos alvo.

Caracterizar a relação dos alunos com a Internet, sob o ponto de vista dos professores, em termos técnicos e cognitivos.

• Verificar se os professores ajudam os alunos nas suas pesquisas realizadas na Internet.

Contudo, concordo com a colega Laura Ferreira quando refere que alguns objetivos deviam estar mais claros, pois suscitam algumas dúvidas quanto à informação que se pretende obter, podendo comprometer os resultados da investigação.

De facto, a definição clara dos objetivos – gerais e específicos – é fundamental na orientação do trabalho de investigação e na operacionalização do mesmo.

São indicados os passos que estiveram subjacentes à construção do questionário? O questionário usado foi objeto de validação prévia?

As etapas na construção do questionário não estão claras, pois a autora apenas informa  que foram utilizados dois questionários (um para os professores e outro para os alunos), constituídos por questões fechadas e de escolha múltipla. Mais uma vez concordo com as críticas da colega Laura Ferreira, principalmente no que diz respeito à falta de informação sobre a fundamentação da escolha, da estrutura e da forma deste instrumento de recolha de dados.

Relativamente à validação prévia, a autora informa que submeteu uma primeira versão a 20 alunos e 10 professores. Contudo, não facilita qualquer informação sobre estes inquiridos, nem a forma e o contexto em que os inquéritos foram aplicados. A autora refere que foi necessário proceder à alterações no questionário, no entanto, apenas informa quais as questões que foram reformuladas, não informando sobre a reformulação propriamente dita.

Esta falta de acesso a informação relevante para o processo de investigação e a sua validação, podem, de facto, comprometer a fiabilidade dos resultados obtidos no estudo.

A amostra é claramente identificada? É indicado o método usado na definição da amostra? 

A amostra é identificada: professores (110) e alunos (350) do 3º Ciclo do Ensino Básico, pertencentes a escolas dos distritos do Porto e de Bragança.

Perante a informação cedida pela autora, depreende-se que foi definida uma amostra não probabilística, por conveniência, ou seja, recorreu a um método não aleatório. A seleção teve por base critérios de proximidade, no que diz respeito ao elo de ligação que possuía com alguns dos elementos nas escolas onde foi aplicado o questionário, e de facilidade, no que diz respeito à comunicação com os inquiridos (acesso à Internet).

Uma amostra com estas características, apresenta uma baixa representatividade da população e tal como refere Alda Pereira em Investigação e Métodos Quantitativos “a amostra representa-se a si própria”, não sendo possível a extrapolação dos resultados para o universo da população.

No capítulo da explicitação da metodologia usada há indicações sobre o modo de tratamento dos dados obtidos com a aplicação do questionário?

Mais uma vez, considero que a autora foi muito redutora na informação relativa ao modo como efetuou o tratamento dos dados obtidos com a aplicação dos inquéritos: “Os dados foram tratados e analisados tendo em vista os objectivos de investigação previamente definidos. Para análise estatística recorreu-se ao programa de computador Excel, sendo os resultados apresentados, sempre que útil, na sua perspectiva percentual.”

A autora faz uma apresentação estatística dos dados, tendo recorrido ao Excel, dando uma breve interpretação dos mesmos. Considero, por isso, que a autora recorreu quer à estatística descritiva, quer à estatística inferencial. Contudo, creio que a interpretação dos resultados é sobretudo descritiva. “A estatística descritiva consiste na recolha, análise e interpretação de dados numéricos através da criação de instrumentos adequados: quadros, gráficos e indicadores numéricos” (Reis, 1996: 15).

Fontes:

Morais, Carlos Mesquita. (2005). Escalas de Medida, Estatística Descritiva e Inferência Estatística. Consultado a 13 de julho de 2013. Disponível em https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/7325/1/estdescr.pdf.

Quivy, R. e Campenhoudt L. (1992). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.

Métodos quantitativos de recolha de dados – Parte I

Em Investigação e Métodos Quantitativos, de Alda Pereira, a mesma identifica as seguintes características nos métodos de recolha de dados de carácter quantitativo:

– associam-se ao paradigma positivista, o qual perceciona o mundo como sendo composto de factos observáveis e mensuráveis e de uma forma dedutiva procura encontrar relações de causa-efeito, não contaminadas pelo contexto;

– o investigador assume uma neutralidade objetiva, pois sendo exterior ao objeto/situação em estudo, não assume assunções pessoais, evitando enviesamentos;

– as hipóteses devem ser testáveis e ter uma natureza probabilística, as quais podem assumir-se como conceptuais (estabelecem uma relação entre variáveis), operativas (indicam as operações necessárias para a sua observação ou estatísticas (expressam a relação esperada em termos quantitativos);

– as variáveis, como fatores ou efeitos que intervêm num fenómeno em estudo, podem ser mensuráveis através de escalas, sendo classificadas em quantitativas (são expressas em valores numéricos reportados a uma unidade de medida ou de ordem) e qualitativas (expressam atributos ou categorias do sujeito ou da situação e podem ser dicotómicas ou politómicas)

– os resultados obtidos são generalizáveis a outros contextos, sendo utilizados instrumentos de recolha, nomeadamente questionários, testes, entrevistas e análise documental, que assegurem a replicabilidade dos estudos e a validade das conclusões;

– a amostragem apresenta-se como um fator decisivo na investigação quantitativa, pois dela depende a representatividade da população em estudo, podendo ser de natureza probabilística (a seleção dos sujeitos é aleatória e a representatividade é, à partida, elevada) ou não probabilística (a seleção dos sujeitos não é aleatória e tem uma baixa representatividade da população);

– a validade prende-se com o grau de certeza com que se fazem as inferências a partir dos resultados em estudo.

A investigação quantitativa recorre aos seguintes métodos:

– investigação experimental: manipulação de condições e posterior verificação do efeito causado por essa alteração,

– estudos quase experimentais: amostras não aleatórias,

– investigação correlacional: estudo de relações entre variáveis,

– investigação ex-post facto: investigação relações de causa-efeito,

investigação por inquérito: permite uma investigação descritiva ou uma investigação explicativa, recorre às técnicas do questionário e da entrevista estruturada, exige a definição rigorosa da amostra e o controlo da investigação.

Debruçando-me em particular sobre o inquérito recorro à apresentação do Grupo Metódicos com o título Métodos de Recolha de Dados (em Investigação Educacional).

Na elaboração do questionário, o investigador, respeitando três princípios – Neutralidade (libertar o inquirido do referencial de juízos de valor ou do preconceito do próprio autor), Coerência (respostas coerentes com intenção da própria pergunta), e Clareza (questões claras, concisas e unívocas) – deve seguir as seguintes etapas:

– na 1ª etapa deve-se delimitar a informação pertinente a escolher de acordo com os objetivos e a finalidade a que se destina, devem-se constituir as categorias e precisar os temas e a sua dimensão, deve-se adequar a extensão do questionário ao público alvo, sendo que o seu preenchimento não deve ultrapassar 45 minutos, sob pena de os inquiridos dispersarem a sua atenção e concentração;

– na 2ª etapa devem-se formular as questões, escolhendo qual o tipo de questões a ser aplicada(escolha fixa, de resposta livre, de facto ou de opinião, diretas ou indiretas (associativas ou projetivas) podendo ser misto); têm de ser curtas, claras e compreendidas pelos inquiridos, por isso, o vocabulário usado deve ser do conhecimento do inquirido e dominado pelo mesmo;

– na 3ª etapa as questões são sequenciadas, agrupadas e formatadas (quanto à estrutura e à forma), tendo em consideração que a ordem das questões pode ter influência no maior ou menor interesse de quem responde;

– na 4ª etapa, o esboço do questionário deve ser submetido a uma apreciação crítica e ser revisto;

– na 5ª etapa, finalizando o que se iniciou na etapa anterior, deve-se efetuar um pré-teste para testar a eficácia e a pertinência do questionário junto de uma amostra representativa da população em que vai ser aplicado o questionário;

– na 6ª etapa procede-se à redação da introdução e das instruções de preenchimento.

Cumpridas estas etapas, o questionário pode ser aplicado.

Como qualquer outro método, o inquérito apresenta vantagens e desvantagens, das quais destaco:

vantagens: anonimato das respostas, relação impessoal com o inquirido, quantificação dos dados.

desvantagens: a percentagem de questionários totalmente e bem preenchidos é reduzida, o indivíduo é uma unidade estatística (perda das relações sociais), a amostra pode não ser representativa da população em estudo.

Fontes:

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: Defacto.

Quivy, R. e Campenhoudt L. (1992). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.

Como organizar um relatório de investigação

Para iniciar a organização de um relatório de investigação, deve-se ter conhecimento das normas formais de apresentação de trabalhos científicos escritos, por exemplo da American Psychological Association (APA, 2005).

Abaixo apresento um esboço de uma possível organização de um relatório de investigação.

organização relatório investigação

Num relatório de investigação a citação de fontes usadas numa investigação tem um carácter obrigatório e é de uma importância fulcral. As citações ocorrem no texto e na lista final das respetivas referências bibliográficas.

Também na citação de fontes se pode recorrer ao estilo APA (American Psychological Association).
Existem ainda outros estilos definidos internacionalmente para a realização de citações e referências bibliográficas em trabalhos académicos ou científicos, de acordo com a área científica.
Abaixo darei exemplos segundo a norma APA 5ª Edição.
Exemplos para citações no texto:

Para   um único autor

Vários   autores

Em todas   as citações posteriores por parágrafo

(Matthews, 1999) (Lawson & Green,     1997) (Freire, et al., 2008)

Referência Bibliográfica:

Livro Author. (Year). Title.   City: Publisher.

Matthews, J. (1999). The art of childhood and   adolescence: The construction of meaning. London, England: Falmer   Press.

Artigo científico impresso Author. (Year). Title.   [Type of Article]. Journal, Volume(Issue), Pages.

Kyratsis, A. (2004). Talk   and interaction among children and the co-construction of peer groups and   peer culture. Annual Review of Anthropology, 33(4), 231-247.

Artigo científico   electrónico Author. (Year). Title.   Periodical Title, Volume(Issue), Pages. Retrieved from URL.

Colvin, G. (2008).   Information worth billions. Fortune, 158 (2), 73-79. Retrieved from   http://search.ebscohost.com/

Site Author.   (Year, Last Update Date). Title. Series Title. Retrieved Date, from URL.

National Renewable Energy   Laboratory. (2008). Biofuels. Retrieved May 6, 2008, from   http://www.nrel.gov/learning/re_biofuels.html.

  • Quando a obra tiver mais de um autor utilizar “&”.
  • Para indicação de páginas nos artigos de publicações periódicas, utilizar p. ou pp.
  • A lista de referências bibliográficas é organizada alfabeticamente pelo último nome do autor. Nos casos em que não há autor, as referências são colocadas alfabeticamente pelo título na mesma lista.
  • Não utilizar os prefixos vol. e nº especialmente em revistas. Estas abreviaturas são apenas usadas em enciclopédias ou capítulos de livros, como se pode verificar nos exemplos abaixo:

Capítulo   de um livro

Labajo, J. (2003). Body and   voice: The construction of gender in flamenco. In T. Magrini (Ed.), Music and   gender: perspectives from the Mediterranean (pp. 67-86). Chicago: University   of Chicago Press.

Enciclopédia

Sadie, S., & Tyrrell, J.   (Eds.). (2002). The new Grove dictionary of music and musicians (2nd ed.,Vols. 1-29). New York: Grove

Fontes:

Bibliotecas da UA. (2010). Manual estilo APA: Referências bibliográficas, normas e estilos. Universidade de Aveiro. Disponível em http://www.ua.pt/sbidm/biblioteca/ReadObject.aspx?obj=15968
Bibliotecas da UA. (—-). Referências biliográficas – normas e estilos. Universidade de Aveito. Disponível em http://www.ua.pt/sbidm/biblioteca/PageImage.aspx?id=12064
Eco, Umberto (1998). Como se faz uma tese em Ciências Humanas. Lisboa, Portugal: Editorial Presença.

Etapas de uma investigação científica

Em trabalho colaborativo com Cátia Carminé e Fábia Moreira elaboramos o seguinte fluxograma de um processo de investigação:

fluxograma_

Apesar das diferenças existentes nos fluxogramas apresentados pelos outros dois grupos, estes não se diferenciam assim tanto entre si, pois o mesmo fio condutor orientado pelo paradigma e pela metodologia cientifica escolhido pelo investigador está presente em todos eles.

De salientar o debate na sala de aula virtual em torno do senso comum e da viragem da literatura e dos autores no que diz respeito ao reconhecimento da mais-valia que este conhecimento pode trazer para a investigação. Como referiu o professor José Moreira, o senso comum é o saber em ação, o qual é igualmente importante para a construção do conhecimento. Contudo, sem se acompanhar de outros tipos de saberes, o conhecimento cientifico produzido pode não ser reconhecido.

De seguida apresentarei uma proposta de fluxograma do processo de investigação científica, tendo por base o contributo de todos os colegas na sala de aula virtual e as leituras que efetuei sobre as etapas de uma investigação cientifica.

etapas

Fontes:

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: Defacto.

Quivy, R. e Campenhoudt L. (1992). Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Portugal: Gradiva.

Estudo de caso em investigação

O estudo de caso, segundo Becker (2012, p.55), é um “modelo artesanal de ciência… no qual o investigador atua como artesão intelectual, uma vez que adequa e personaliza os instrumentos de acordo com o seu objeto especifico de investigação”. Esta característica tornou este método de investigação muito popular na área das Ciências Sociais, sendo introduzido na área da educação em 1975, na Conferência Internacional realizada em Cambridge.

No estudo de  caso o investigador recorre a várias técnicas de recolha de dados e envolve-se pessoalmente na investigação de forma a representar o mundo tal como ele é na realidade, como é sentido, percecionado, vivido, experimentado, compreendido pelos atores reais. Neste sentido, segundo McKernan (2012, p.59) “o estudo de caso é um estudo fenomenológico em que se tenta representar o mundo tal como os participantes e o investigador o experimentam”. Já Ludke e André (2012, p.62)  destacam que a variedade de fontes de informação “para além de enriquecer o estudo, permite cruzar informações, confirmar ou enjeitar hipóteses, descobrir novos dados, afastar meras suposições e formular hipóteses alternativas”.

Para Stake (2012, p.57) o estudo de caso é “uma forma particular de estudo: gera um conhecimento mais concreto e mais contextualizado, privilegiando a profundidade em detrimento da sua abrangência”. Defende ainda o mesmo autor que, porque investiga em profundidade, permite estudar particularidades, as quais devem ser tão numerosas e pormenorizadas quanto possível de forma a poder captar os aspetos comuns que possam existir entre diferentes casos em estudo. Nesta linha de pensamento, Lessard-Hébert et al. (2012, p.56-57) definem o estudo de caso como “uma estratégia investigativa através da qual se procura analisar, descrever e compreender determinados casos particulares (de indivíduos, grupos ou situações), podendo posteriormente encetar comparações com outros e formular determinadas generalizações”.

Stake (2012, p.59-60) atribui as seguintes características ao estudo de caso:

– é um estudo holístico (tem em conta a globalidade do contexto e do objeto),

– é um estudo empírico (recorre a variadas técnicas de recolha de dados, de preferência evitando alterações no objeto/contexto observado),

– é um trabalho interpretativo (com base na intuição, o investigador sustenta a sua interação com o sujeito e, consequentemente, o rumo da investigação),

– é um trabalho empático (apesar de previamente delineado, o trabalho de investigação vai-se adaptando à realidade que estuda).

Eisner (2012, p.60-61) acrescenta mais algumas características aos estudos de caso, nomeadamente:

– que tendem a ser focalizados,

– que utilizam o “eu”(investigador) como instrumento, o qual incorpora a situação, explora-a e dá-lhe sentido,

– que têm um carácter interpretativo, ou seja, pretendem a compreensão dos significados,

– que utilizam uma linguagem expressiva,

– que evitam métodos e técnicas de cariz quantitativo,

– que a sua credibilidade se fundamenta na sua coerência, intuição e utilidade instrumental.

O estudo de caso pode ser utilizado quer em estudos de cariz quantitativo, quer qualitativo, contudo é nestes últimos que com mais frequência são utilizados, sendo estruturados numa vertente interpretativa e compreensiva, comportando as seguintes dimensões (Morgado, 2012, p.62-63):

– descritiva – uma parte significativa do processo de investigação assenta na recolha e descrição de aspetos descritivos do contexto em que ocorre o estudo,

– exploratória – a estratégia metodológica é flexível e aberta, adaptando-se às necessidades de familiarização com o objeto e o contexto de forma a atingir os objetivos,

– interpretativa – o investigador procura interpretar e compreender o objeto e o contexto em estudo.

Resumindo: no estudo de caso o investigador é a peça-chave no processo de investigação porque apesar de não ter o controlo de todas as variáveis, tenta apreender a situação na sua totalidade para conseguir descrever, compreender e interpretar a complexidade do caso em estudo, produzindo novos conhecimentos para a problemática em causa. Como diz Stake (2012, p. 59), “o investigador não descobre, mas antes constrói o conhecimento”. Contudo, esta proximidade do investigador com o objeto e o contexto pode desvirtuar e enviesar todo o processo de investigação, por isso, é fundamental que todo o novo conhecimento alcançado seja confrontado com casos e problemáticas semelhantes anteriormente estudadas. No mesmo sentido, o investigador não deve perder nunca a sua linha metodológica orientadora, apesar de dever manter a sua liberdade no ajustamento dos métodos e técnicas de recolha, tratamento e análise dos dados que considerar mais pertinentes aos objetivos da investigação. Apesar deste senão, o estudo de caso ao possibilitar o recurso a diferentes métodos e técnicas de investigação, promove a imaginação e a criatividade do investigador, prevalecendo a reinvenção do processo de investigação e, consequentemente, o enriquecimento do conhecimento obtido.

Fonte:

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: De Facto Editores.

Paradigmas na investigação educacional

Citado por Alda Pereira em Paradigmas na Investigação em Ciências Sociais e em Educação, Neuman define paradigma como o quadro geral que determina a teoria e a investigação, as assunções principais, os modelos de investigação, os métodos e as técnicas. Ou seja, o paradigma é o fio condutor de uma investigação, desde a exploração da problemática/temática a investigar, à definição das questões orientadoras da investigação, aos métodos e técnicas de investigação, aos critérios de validação e de legitimação do conhecimento produzido.

Ainda segundo Alda Pereira, os paradigmas distinguem-se quanto:

– ao objetivo da investigação,

– à natureza da realidade social,

– à visão sobre o homem e o senso comum,

– à natureza da teoria e da explicação,

– à perspetiva sobre os valores.

Estes pontos de distinção levam à existência de três paradigmas na investigação educacional: positivista, interpretativo e crítico.

O paradigma positivista surge na revolução cientifica do século XVI, estando na sua génese interligado às ciências naturais. Destacou-se com Comte através da sua teoria dos três estados: o homem progrediria de um estado teológico para um estado metafísico e deste para um estado físico final. Já no século XIX inicia a sua influência em outras ciências emergentes, nomeadamente as ciências sociais.

No paradigma positivista, a realidade social é objetiva e impessoal e a subjetividade dos sujeitos não é considerada, assim como o senso comum e os valores, pois o homem é percecionado como um indivíduo racional e neutro. A investigação é conduzida do exterior do objeto. Neste paradigma, o principal objetivo da investigação é aspirar à generalização, ou seja, encontrar leis gerais que possam prever e controlar acontecimentos na sociedade (causa-efeito). Assenta, por isso, em teorias de natureza lógica e dedutiva e recorre à investigação experimental e a métodos quantitativos de recolha de dados. Assume-se, por isso, como uma corrente filosófica que admite que o conhecimento só pode ser atingido através da experiência sensorial.

O paradigma positivista defende que os procedimentos metodológicos da ciência natural podem-se aplicar às ciências sociais e, desta forma, o cientista social observa a realidade social de modo idêntico ao que faz quando observa a natureza. Assume-se como um método de procura de saber que admite que se podem descobrir as causas das coisas e, consequentemente, fazer predições de acontecimentos e comportamentos futuros com base em acontecimentos e comportamentos atuais, podendo ser formuladas leis ou generalizações, ou testar teorias já existentes.

Este paradigma privilegia a explicação dos resultados de uma ação em detrimento do indivíduo que a protagoniza, assim como daquele que a observa e analisa, tal como os valores, os interesses e os princípios latentes na atividade humana e social. A interação entre o investigador e o investigado caracteriza-se por ser uma relação de distanciamento, de superioridade (poder e controlo), assimétrica e objetiva.

Apesar de um paradigma dominante, muitas críticas lhe são apontadas. Citado por Morgado em O Estudo de Caso na Investigação em Educação (2012, p.12), Popkwitz  denomina-o de “paradigma empírico-analítico” e considera que “… perde de vista a natureza da razão e da lógica como algo construído e conservado socialmente.” Apresenta, por isso, limitações no estudo do comportamento humano ao encarar os processos sociais como processos mecânicos e tecnológicos e não como processos criativos e artísticos. Neste sentido, Santos considera que este modelo pode “configurar-se como um modelo segregador e totalitário”.

A ansiedade por um conhecimento mais profundo do individuo, nomeadamente das suas ações e dos significados que nelas imprime, fez despoletar já no século XX o aparecimento do paradigma interpretativo, o qual em O Estudo de Caso na Investigação em Educação é definido por Martinez como “um meta-sistema de referência, cujo objetivo é guiar a interpretação das interpretações e a explicação das explicações” (2012, p.17).

O paradigma interpretativo assume como objetivo de investigação a compreensão e a descrição da ação dos indivíduos, os quais encara como agentes sociais ativos na criação da realidade social e de sistemas diferenciados de significados. Para este paradigma, o indivíduo é o objeto de estudo, e, consequentemente, as suas ações e o significado que atribui às mesmas. São privilegiados os métodos de investigação de teor qualitativo, assim como o envolvimento e a proximidade do investigador com o indivíduo em estudo: o investigador assume um envolvimento pessoal e de parcialidade, mas ao mesmo tempo de compreensão empática e de proximidade. Ao ganhar a confiança dos investigados, o investigador tem maiores probabilidades de aceder às suas interpretações. Contudo, pode ficar demasiado implicado e abandonar os mínimos de rigor e objetividade imprescindíveis para o trabalho científico.

O investigador emerge nos contextos a estudar e socorre-se das múltiplas técnicas de recolha de dados existentes na metodologia qualitativa, tornando a investigação mais flexível, privilegiando a análise das linguagens e dos significados atribuídos pelos investigados. Visto que é o investigador que conduz a investigação, analisa e interpreta os resultados obtidos e o destino que lhes é dado, o conhecimento obtido pode ser enviesado.

A sociedade é uma realidade social fluida, subjetiva e simbólica que é apropriada, interpretada e alterada de acordo com os significados que cada um dos seus atores lhe atribui, individualmente e em grupo. Assim, a realidade social vai sendo (re)recriada num ambiente de interações simbólicas “que servem de base à elaboração e manutenção das normas que regem a vida social” (Popkewitz, 2012, p.17). A dimensão das populações estudadas é uma questão crítica, pois podem existir dificuldades em sintetizar os dados(complexidade e tempo). São, por isso, complexas e difíceis de medir as variáveis, permitindo apenas a formulação de hipóteses e de teorias contextualizadas, mas não de generalizações.

Santos (2012, p. 18-19) salienta a importância da emergência de um novo paradigma – o paradigma crítico -, alertando para uma nova vertente da investigação, para além da científica: a vertente social. Este paradigma assume-se como “o paradigma da vida decente”, capaz de mobilizar os meios necessários para promover o bem-estar da sociedade e para restituir ao ser humano a sua liberdade crítica e a possibilidade de participação cívica, meios indispensáveis para se poderem eliminar alguns abusos  e certas tendências de determinados poderes totalitários instrumentalizarem a ciência em benefício dos seus interesses particulares”.

Tendo as suas raízes nas tradições intelectuais norte-americanas, o paradigma crítico, nas primeiras décadas do século XX, foi fortalecido com as polémicas geradas pela guerra do Vietname, com a constatação da não eliminação das desigualdades sociais e, principalmente, a partir da década de 80, com Popkewitz, e a incorporação das perspetivas de diversas correntes filosóficas (marxistas e críticas ou tendências próximas do pós-estruturalismo).Como percursores e inspiradores do paradigma crítico podemos encontrar a escola de Frankfurt (Horkheimer e Adorno), o neomarxismo (Apple,1982; Giroux, 1983), a teoria crítica de Habbermans (1984) e os trabalhos de Paulo Freire (1972) e Carr e Kemmis (1983).

Popkewitz (2012, p.42) considera que este paradigma tem um cariz reflexivo, está configurado numa vertente política e está orientado para a mudança social. Este paradigma perceciona os indivíduos como seres criativos, com potencial para realizar mudanças, sendo que a criação de condições para a mudança, nomeadamente a revelação das reais condições da realidade, é uma das características deste paradigma. Os indivíduos, os grupos, a sociedade são os objetos de estudo no paradigma crítico. O investigador é participante ativo da investigação, a qual se carateriza por estar orientada para a ação: não se limita a descrever e a compreender a realidade, mas a intervir e a transformá-la, “orientando o conhecimento para a emancipação e libertação de cada indivíduo. Ele próprio assume as aprendizagens realizadas e as mudanças nele operadas, aumentando a sua compreensão do mundo social. A relação entre investigador e investigado caracteriza-se por ser informal, colaborativa e reflexiva, por existir paridade, partilha, negociação de papéis e estatutos e compromisso (2005, p.230-249).

Com o aparecimento do paradigma crítico, a neutralidade da ciência e da investigação em geral e, em especial, da investigação educacional, é posta em causa dado o caráter emancipatório e transformador que lhe é atribuído.

As suas principais estratégias de investigação são o estudo de caso, as técnicas dialéticas e a investigação-ação. A investigação-ação é considerada a expressão metodológica da perspetiva crítica (2005, p.231) e tem vindo a adaptar-se às várias tendências da investigação educacional e do desenvolvimento social.

Após a exposição dos três paradigmas que orientam a investigação educacional, as suas potencialidades e as suas limitações, verifica-se que o paradigma positivista se alia às metodologias e técnicas quantitativas – objetividade, variáveis mensuráveis e identificáveis, tem como objetivos a generalização, a previsão e a explicação, recorre a instrumentos formais de recolha de dados, os quais são reduzidos a números, é dedutiva -, enquanto que os paradigmas interpretativo e crítico se apoiam nas metodologias e técnicas qualitativas – o investigador é empático e parcial e ele próprio é um instrumento de recolha de dados, as variáveis são subjetivas e complexas, estão interligadas e são difíceis de mensurar, pretende compreender o ponto de vista dos intervenientes através da interpretação e dos significados que estes atribue  à realidade com o objetivo de criar uma teoria de forma indutiva, procurando padrões.

Num processo de investigação, o que deve orientar o trabalho cientifico: as preferências do investigador, as estratégias metodológicas, o objeto de estudo, a finalidade da investigação? A título pessoal, as minhas preferências recaem sobre os paradigmas interpretativo e crítico, contudo tenho de reconhecer que esta variável não pode ser aquela que determinará a linha de orientação da minha investigação. Sendo a investigação um processo rigoroso e sistemático, o conhecimento aprofundado das metodologias e das técnicas a utilizar é fundamental para que a escolha feita não inviabilize os dados e os resultados.

Neste sentido autores como Pérez Gómez e Husén (2012, p. 31-32) defendem que o sucesso da investigação cientifica assenta no seguinte pressuposto, com o qual concordo em pleno: é a natureza dos problemas a estudar e a as finalidades da investigação que devem determinar os paradigmas e as metodologias mais adequadas ao processo de investigação.

Concordo igualmente com o que alguns autores, como é caso de Erikson, defendem: o pluralismo metodológico. Também Alvira (2012, p.26) defende que a pluralidade metodológica possibilita “uma visão partilhada” da realidade social, a qual sempre que se apresente como profícua para o trabalho cientifico deve ser implementada. Assim, pode-se concluir que a coexistência e a complementaridade de diferentes contributos teóricos e metodológicos, de diferentes perspetivas e formas de ver a realidade, do cunho pessoal de cada investigador, personalizam e enriquecem o processo de investigação e, consequentemente, o conhecimento.

Fontes:

Costa, Maria Isabel Barros Morais. (2005). Percursos de cientificidade em educação: uma abordagem aos textos normativos. Disponível em http://repositorio.utad.pt/handle/10348/23

Morgado, J. C. (2012). O Estudo de Caso na Investigação em Educação. Santo Tirso, Portugal: De Facto Editores.

Pinheiro, Maria do Rosário. (2007). Paradigmas da Investigação Educacional. Disponível em https://woc.uc.pt/fpce/getFile.do?id=1850&tipo=2